top of page

Sobre Nós

O Grupo de Pesquisa Educação, Mineração e Território (EduMiTe) é um grupo de pesquisa que tem por objetivo a construção conjunta de saberes sobre impactos da mineração e controvérsias que envolvem os diversos aspectos a ela inerentes em diferentes territórios. Por meio de diálogos e conexões entre universidade, escolas, comunidades e movimentos socioambientalistas, busca auxiliar na produção de informação, pesquisas e formação do público interessado nessas temáticas, visando o empoderamento de comunidades afetadas de diferentes formas pela atividade minerária por meio de cursos, palestras, eventos e materiais diversos.

EDUMITE_iconeCORES_TRANPARENTE.png

Nossos Princípios

1. A atividade minerária é permeada por diversas controvérsias sociocientíficas e socioambientais A mineração é uma atividade controversa envolvendo impactos socioambientais diversos. Apesar de ser constantemente associada ao Discurso de Desenvolvimento pela Mineração (DDM), conforme aponta Coelho (2012). O DDM tem a processa de emprego e desenvolvimento local alicerçada em no discurso tecnicista salvacionista como uma tentativa de legitimação da atividade minerária invisibilizando seus impactos, muitos deles irreversíveis. Mas, ao pesquisarmos os impactos da mineração e sua extensão espacial e temporal, a promessa de desenvolvimento pela mineração é no mínimo questionável. Por isso almejamos por meio da produção coletiva de conhecimento e formação crítica de professores e comunidades, visibilizar as controvérsias da mineração nos diversos território em que esta atividade tem influência.

2. Os desastres de rompimento de barragens de rejeitos não são eventos, mas processos As investigações referentes aos grandes rompimentos ocorridos no Brasil (Samarco-Vale-BHP, em 2015, e Vale S.A, em 2019) têm mostrado um modus operandi da mineração e dos governos que contribuíram para que ocorressem estes colapsos e os rompimentos de barragens, sendo estes, portanto, já comprovadamente crimes. As diversas ações que levaram aos desastres-crimes, iniciaram antes do momento do colapso das barragens e os impactos da lama seguem atingindo diversas comunidades ao longo de centenas de quilômetros de rios afetados.

3. A mineração e os desastres minerários possuem uma territorialidade e são responsáveis por processos de desterritorialização A atividade minerária e seus impactos se estendem geograficamente para muito além de onde estão instalados os complexos minerários. Estes estão vinculados a uma extensa rede logística de transporte que envolve minerodutos, gasodutos, oleodutos, ferrovias, rodovias e portos. Os impactos especialmente nos rios e mares, por meio de rompimentos de barragens e vazamentos (barragens e sistemas de transporte), afetam extensos territórios e causam processos de desterritorialização, visto que influenciam na base de vida de diversas populações - pela poluição hídrica ou pelas cadeias econômicas locais atingidas. A própria instalação de complexos minerários influencia na territorialidade com o deslocamento de quantidade de pessoas, de mão de obra majoritariamente masculina, com especialização de serviços voltadas para o setor minerário, gerando mão de obra minero-dependente, que fazem migração e sobrecarregam os serviços públicos locais.

4. As águas e o território das bacias hidrográficas são elementos essenciais e imprescindíveis na análise dos impactos e riscos promovidos pela atividade minerária A mineração influencia na quantidade e na qualidade das águas. Em regiões como no Quadrilátero Ferrífero-Aquífero de Minas Gerais, a atividade minerária destrói regiões extremamente importantes para a segurança hídrica de milhares de pessoas - os aquíferos. Em outras regiões, como na Amazônia, a mineração destrói formações vegetais que são importantíssimas para a manutenção climática e o regime de chuvas. Além disso, os impactos da mineração, quando atingem os corpos d’água, se estendem ao longo de bacias hidrográficas. Um exemplo são os rompimentos de barragens, em que a lama segue naturalmente o caminho das águas até chegar a um rio maior (por exemplo, o caso do rio Paraopeba que deságua no rio São Francisco) ou no mar (por exemplo, o rio Doce que deságua no mar do litoral do estado do Espírito Santo). Portanto, entender a dinâmica das águas é também entender a territorialidade dos impactos advindos dos desastres minerários. E diante de um contexto de mudanças climáticas, a segurança hídrica de diversas populações tende a ser mais ameaçada ainda, podendo a mineração influenciar negativamente contribuindo para quadros cada vez maiores de escassez hídrica.

5. As mulheres são afetadas intensamente e de maneira específica pela mineração e os desastres minerários A instalação de complexos minerários geralmente é seguida do aumento dos índices de violência contra a mulher, casos de estupro e gravidez na adolescência. Além disso, os desastres minerários afetam intensamente as mulheres. Muitas tinham sua renda em trabalhos informais ligados à cadeia econômica do turismo e agricultura familiar que são intensamente afetados com os desastres minerários. As mulheres possuem saberes e histórico de lutas por direitos diante de violações promovidas pela mineração em diversos territórios.

6. A educação crítica e problematizadora é um caminho para o empoderamento e superação da cultura de silêncio Partindo do princípio de Paulo Freire de que “o conhecimento do mundo precede o conhecimento da palavra”, o EduMiTe tem como uma das diretrizes construir, junto a educadores, conhecimentos e ferramentas que auxiliem no exercício de uma educação problematizadora. As mineradoras investem em diversas estratégias de marketing socioambiental nas comunidades, reforçando os Discursos de Desenvolvimento pela Mineração (DDM), em processos designados por Acselrad (2009, p.81), como "expropriação dos sentidos" muitas vezes por meio da uma "desinformação organizada". É comum nas cidades em que a mineração já possui um histórico de minas implantadas que a atividade seja vista como “o melhor” ou mesmo “o único” caminho, como um “destino manifesto” ou “vocação territorial” em uma postura fatalista. Discurso esse que estimula o silenciamento e passividade, mesmo frente ao fato de ser uma atividade com prazo para finalizar (visto que os minerais são recursos não renováveis) e que promove diversos impactos socioambientais, muitos deles irreversíveis. Para tal, a composição do EduMiTe, que conta com pesquisadores-professores, professores-pesquisadores e ativistas, visa auxilia na dinâmica de construção coletiva de conhecimento e de práticas didáticas que considerem educadores-educandos como sujeitos históricos em processos formativos. E que estes envolvam o questionamento e mudança e não a adaptação aos discursos impostos por uma só voz. Corroboramos com Paulo Freire de que não há docência sem discência, portanto, os professores (tanto os universitários quanto os da educação básica e técnica) integrantes do grupo são educadores-educandos assim como educandos-educadores.

7. A ciência cidadã como possibilidade de diálogo e construção de saberes em rede Busca-se nas pesquisas conduzidas e/ou promovidas, em parceria como EduMiTe, a produção do conhecimento científico, levando em consideração outros saberes e a participação da sociedade, valorizando construções em rede. Fazemos parte da Rede Brasileira de Ciência Cidadã (RBCC). A maioria dos integrantes do grupo identificam-se como professora-pesquisadora e têm nas temáticas de investigação ferramentas, produção de dados e formações/capacitações diversas que são demandas de professores e comunidades. O risco oferecido pela atividade minerária e o temor pelo rompimento iminente das barragens, impactam a vida local nos territórios de forma ampla, desde a esfera ambiental, passando pela econômica até a segurança civil. O risco potencial ameaça a vida incessantemente e pode ser expresso pelo pânico advindo da “lama invisível”. Os rompimentos de barragens não são eventos isolados, são processos que se perpetuam em uma conjunção de espaços: o espaço de vida (território) e o espaço da água (bacias hidrográficas). O risco de novos desastres minerários e os impactos, mesmo da lama invisível, têm alertado sobre a importância de se criar redes de produção e compartilhamento de saberes sobre as controvérsias, riscos, impactos da mineração e mecanismos de participação que possam auxiliar na construção e/ou legitimação de formas de gestão territorial.

Histórico

O grupo surgiu a partir da iniciativa de duas mulheres, Daniela Campolina e Lussandra Gianasi que há mais de 10 anos têm desenvolvido, em parceria, projetos de extensão envolvendo temáticas de gestão participativa das águas, formação de professores e mapeamento geoparticipativo. Lussandra Gianasi é geógrafa, atualmente professora associada de Geografia do IGC-UFMG. Desenvolve pesquisa e extensão na UFMG nas áreas correlatas ao grupo de pesquisa. Daniela Campolina é licenciada em Ciências Biológicas (UFMG), mestre e doutora em educação (FAE-UFMG) e professora da educação básica em um município com forte influência da mineração. É ativista no Movimento pela Preservação da Serra da Gandarela, no Movimento pelas Serras e Águas de Minas e na Red Latinoamericana de Mujeres Defensoras de los Derechos Sociales y Ambientales. As pesquisadoras-professoras,  trabalharam juntas no Projeto Manuelzão (UFMG) onde iniciaram a sistematização e desenvolveram a metodologia do Mapeamento Geopaticipativo 3P - problemas, potencialidades, possibilidades. Fruto da aplicação da metodologia e do amadurecimento intelectual sobre o tema em 2017 lançaram o livro Geotecnologias na educação para gestão das águas: mapeamento geoparticipativo 3P com o qual também iniciaram a participação na rede internacional Nós Propomos.

O Mapeamento Geoparticipativo 3P é um instrumento metodológico de análise comunitária da dinâmicas territoriais e como estas influenciam na quantidade e qualidade das águas.  A metodologia é um instrumento por meio do qual escolas e comunidades também podem produzir informações e conhecimentos sobre seus territórios e contribuir para a gestão participativa das águas. A metodologia foi adaptada a partir de 2018 para ser utilizada também como ferramenta de análise de risco frente a possibilidade de novos rompimentos de barragens. O Mapeamento Geoparticipativo de Barragens (MapGB) foi desenvolvido no âmbito da pesquisa de doutorado em educação de Daniela Campolina que teve Lussandra Gianasi como co-orientadora (CAMPOLINA, 2021). 

 

Frente à grande influência dos discursos minerários na região e ao ativismo desenvolvemos nossos projetos. O Quadrilátero Ferrífero-Aquífero é um dos territórios de nossos projetos de extensão, pesquisa e de cursos de formação continuada de professores abordando as controvérsias da mineração. Esta também foi a temática da pesquisa de doutorado de Campolina que teve como co-orientadora Lussandra Gianasi. A temática da pesquisa também gerou um intercâmbio doutoral no Programa Queen Elizabeth Scholars na York University efetivado pela parceria da co-orientadora, sob supervisão da pesquisadora Ellie Perkins, que já desenvolveu projetos de gestão participativa em São Paulo, e apoio de Judith Marshall, que fez um estudo comparativo entre o rompimento da barragem de Mount Polley, da Imperial Metals na British Columbia, Canadá (2014) e a barragem de Fundão, da Samarco-Vale-BHP em Mariana e rio Doce, Brasil (2015).

Diante influência constante de empresas minerárias na educação em territórios que possuem interesse - por meio de parcerias com prefeituras, realização de cursos para professores e atividades diversas envolvendo escolas e comunidades - somando-se a escassez de materiais e abordagens didáticas problematizadoras sobre a temática da mineração e suas controvérsias, as pequisadoras-professoras viram o criação de um grupo de pesquisa como uma possibilidade de formação de redes interdisciplinares e transversais, no intuito da construção e compartilhamento de saberes que possam auxiliar na formação crítica e problematizadora quanto à temática da mineração.

A interdisciplinaridade e transversalidade do EduMiTe também é expressa em sua composição que integra professoras(es)-pesquisadora(es), professoras(es) da educação básica, ativistas, graduandas(os) e bolsistas extensionistas de diversos cursos. 

bottom of page